Muitos adultos se derretem por um bebê gorduchinho e fofinho. A imagem, que em outros tempos foi sinal da boa saúde do pequeno, hoje se torna um ponto de atenção para endocrinologistas, pediatras e mamães. É que quando uma criança desenvolve sobrepeso ou obesidade logo nos primeiros anos de vida, pode enfrentar ao longo da vida adulta uma série de complicações de saúde decorrentes do excesso de peso corporal.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) fez, recentemente, um alerta sobre a obesidade infantil no Brasil. O organismo internacional estima que cerca de 11,3 milhões de crianças sejam diagnosticadas com obesidade até 2025. Mas, o que está ao alcance das famílias na luta contra essa doença?
O que é obesidade infantil?
Obesidade é o acúmulo de gordura no corpo causado pelo consumo excessivo de calorias na alimentação. Significa dizer que a pessoa acaba ingerindo muita fonte de energia que depois o corpo não consegue gastar integralmente nas atividades exercidas ao longo do dia.
Graus de obesidade
Uma das formas de categorizar a obesidade é classificá-la de acordo com o IMC - Índice de Massa Corporal. Ele é calculado dividindo o peso total da pessoa pela sua altura elevada ao quadrado. Esta fórmula serve para determinar o quanto a pessoa está acima do peso.
Os índices indicam:
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Abaixo de 17 - muito abaixo do peso
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Entre 17 e 18,4 - abaixo do peso
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Entre 18,5 e 24,9 - peso normal
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Entre 25 e 29,9 - acima do peso
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Entre 30 e 34,9 - obesidade I
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Entre 35 e 39,9 - obesidade II (severa)
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Acima de 40 - obesidade III (mórbida)
Em linhas gerais, considera-se obesa a criança que apresenta o índice de massa corpórea acima de 30. Porém, ressalta a Dra. Jamilly, o diagnóstico de obesidade só pode ser fechado após a avaliação de um pediatra ou endocrinopediatra. Por isso é tão importante o acompanhamento médico regular da saúde da criança e o monitoramento do peso.
Principais causas da obesidade infantil
No caso dos bebês e crianças, o grande perigo da obesidade começa quando a criança termina a amamentação e é inserida na rotina alimentar da família. A ingestão de doces nessa fase eleva o risco de obesidade e altera totalmente o paladar da criança com menos de 2 anos. Se antes ela estava acostumada com o gosto do leite materno, de fórmula infantil ou alimentos naturais, o açúcar traz um sabor completamente novo e “extravagante” – mais saboroso e mais viciante. Dessa forma, a criança tende a escolher alimentos cada vez mais açucarados, hiperprocessados e extremamente calóricos.
Após os primeiros anos de vida, os cuidados devem continuar. Durante toda a infância, o limite de ingestão de açúcar é de, aproximadamente, 25 gramas por dia, de acordo com a OMS. E isso não envolve apenas os cristaizinhos de açúcar em si, mas também aquele que já vem embutido em sucos artificiais, refrigerantes, balas, biscoitos recheados, bolinhos etc. Extrapolar essa quantidade pode, muitas vezes, resultar em hiperatividade, dificuldade de concentração e irritabilidade, entre outras complicações psicológicas, fora os desdobramentos referentes ao excesso de peso.
Consequências da obesidade infantil
As principais consequências da obesidade infantil estão relacionadas ao risco de complicações cardiovasculares, desenvolvimento de hipertensão, diabetes e até mesmo prejuízo às articulações do pequeno. “Mas, sem dúvida, há outras dificuldades enfrentadas pela pessoa obesa que dizem respeito ao seu convívio em sociedade. Essas pessoas ainda enfrentam muito preconceito, dificuldade de encontrar roupas, desconforto no uso de transporte público e outras situações que abalam a autoestima da criança”, alerta a Dra. Jamilly.
Ela lembra que o termo “gordofobia”, que significa a aversão que se tem a pessoas acima do peso, passou a ser discutido muito recentemente, e as pessoas, no geral, ainda tendem a discriminar uma pessoa acima do peso, sendo ela criança ou adulta.
Como prevenir a obesidade infantil?
“Claro que já se identificou que fatores genéticos influenciam no surgimento da obesidade. Mas a hereditariedade não é uma sentença absoluta nesses casos. Os fatores ambientais, como uma alimentação rica em fibras, proteínas magras e uma quantidade equilibrada de carboidratos, associados a uma rotina de prática de exercícios físicos podem diminuir os riscos de a criança desenvolver obesidade”, explica a Dra. Jamilly Drago, endocrinologista do Hospital Brasília.
Também é preciso ficar atento ao tempo de exposição da criança à TV, tablet, celular e games, o que intensifica um comportamento sedentário. Mesmo antes da quarentena, já foi constatado que, hoje, os pequenos ficam mais reclusos, muito menos expostos às atividades físicas comuns da infância e da adolescência de antigamente, como pular corda, andar de bicicleta, jogar futebol, vôlei e queimado com os amigos e brincar de pique. Portanto, é importante incentivar atividades aeróbicas, mesmo que dentro de casa. Será mais divertido ainda se houver o envolvimento de toda a família!
A médica lembra ainda que a detecção precoce da doença é essencial para uma mudança do quadro de obesidade. Por meio da reeducação alimentar gradativa e da introdução de atividades físicas na rotina, a criança terá mais chances de eliminar o risco de levar essa doença para o resto da vida.