Antes chamadas de doenças sexualmente transmissíveis (DST), as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) são patologias disseminadas pelo ato sexual com uma pessoa infectada sem o uso de preservativos. A mudança do nome ocorreu porque uma pessoa pode não apresentar sinais ou sintomas da doença, mas, ainda assim, contaminar outras pessoas.
De acordo com a Dra. Ana Helena Germoglio, infectologista do Hospital Brasília Unidade Águas Claras, as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) vêm crescendo no Brasil e no mundo, sobretudo entre a população mais jovem. Não somente a Aids, mas as hepatites, a sífilis, a gonorreia e o HPV são ISTs que vêm aumentando sua incidência de forma exponencial. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que, diariamente, são diagnosticados mais de 1 milhão de casos novos de ISTs em pessoas entre 15 e 49 anos ao redor do mundo.
A Aids continua sendo um grande problema de saúde pública mundial, com mais de 33 milhões de mortes desde o início da epidemia até 2019. No entanto, com o acesso à informação, à prevenção, ao diagnóstico e ao tratamento, a infecção pelo HIV tornou-se uma condição de saúde crônica, de modo que, hoje, as pessoas que vivem com o vírus têm a mesma expectativa e qualidade de vida de uma pessoa sem o vírus. Estima-se que o número de novos casos de HIV na América Latina tenha aumentado 21% desde 2010, com aproximadamente 120 mil novas pessoas infectadas em 2019.
A principal forma de transmissão das ISTs é por relação sexual desprotegida, incluindo sexo vaginal, anal e oral. Entretanto, outras vias de contágio também são importantes: da mãe para o bebê durante a gestação, no parto e na amamentação e pelo contato com mucosas e pele com sangue contaminado em acidentes perfurocortantes.
Segundo a Dra. Ana Helena Germoglio, a pandemia do novo coronavírus deixou mais de 70 países em risco de escassez de remédios para tratar pessoas com HIV. O Brasil não está nessa lista, mas não deixou de enfrentar problemas. De acordo com o Ministério da Saúde, por causa da sobrecarga dos serviços em função da pandemia, houve redução de 17% no número de pessoas que iniciaram a terapia antirretroviral, em comparação com o mesmo período do ano anterior, mas não houve problemas de desabastecimento de medicamentos. “Provavelmente, o medo de se expor ao coronavírus levou alguns pacientes a não procurarem as unidades de saúde onde faziam acompanhamento”, explica a infectologista.
De maneira geral, as infecções sexualmente transmissíveis são evitáveis, por meio de práticas sexuais seguras, como o uso correto e consistente de preservativos e educação sobre saúde sexual. Afinal, informação também é um modo de prevenção.
As principais infecções sexualmente transmissíveis (ISTs)
Além da doença provocada pelo vírus HIV, a Aids, existem diversas outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Elas são provocadas por vírus, bactérias ou microrganismos e variam em relação aos sintomas. “Algumas podem não apresentar sinais de imediato, levando longos períodos sem se manifestar, mas ainda assim causarem a contaminação por meio de relações sexuais sem proteção”, ressalta a Dra. Ana Helena. Há também a possibilidade de essas condições serem transmitidas da gestante para o bebê durante a gestação, no parto ou na amamentação. Em menos casos, há também a possibilidade de contágio pelo contato com mucosas ou pele com secreções no corpo. As principais doenças são:
- HPV – o vírus infecta a pele e as mucosas e pode causar lesões ou verrugas que podem levar ao câncer, como de colo de útero, garganta, ânus e pênis. Existe a opção de vacina contra o HPV comercializada. Ela é oferecida também gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos ou para quem já tem o HPV na faixa etária de 9 a 26 anos;
- gonorreia e infecção por clamídia – são infecções causadas por bactérias que atingem os órgãos genitais. Quando não são tratadas, podem causar infertilidade e dor durante as relações sexuais;
- cancro mole (cancroide) – provocado pela bactéria Haemophilus ducreyi, causa lesões na área genital, na maioria das vezes dolorosas;
- HIV/Aids – HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana. Causador da Aids, ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. Pode ficar anos sem apresentar sintomas;
- donovanose – doença crônica que atinge principalmente as mucosas das regiões genital, perianal e inguinal e caracteriza-se por úlceras genitais;
- sífilis – é causada pela bactéria Treponema pallidum e se apresenta por meio de estágios diferentes: primária, secundária, latente e terciária;
- linfogranuloma venéreo (LGV) – é uma infecção crônica causada pela bactéria Chlamydia trachomatis que atinge os órgãos genitais e os gânglios da virilha;
- doença inflamatória pélvica (DIP) – síndrome causada por diversos microrganismos. Ocorre, sobretudo, quando a gonorreia e a infecção por clamídia não são tratadas;
- tricomoníase – infecção genital causada pelo protozoário Trichomonas vaginalis, afeta a vagina ou a uretra na maior parte dos casos, mas também pode ser encontrada em outras partes do sistema geniturinário. Provoca microlesões na parte interna da vagina.
Quais as formas de prevenção?
A principal forma de prevenção contra infecções sexualmente transmissíveis é o uso da camisinha masculina ou feminina, um ato fundamental de proteção da saúde. E quando acontecem acidentes, como romper o preservativo, por exemplo, é importante se buscar imediatamente atendimento médico para que seja indicada outra opção de prevenção. A chamada prevenção combinada agrupa outros métodos de proteção, como testagem regular para o HIV; prevenção da transmissão vertical (quando o vírus é passado para o bebê durante a gravidez, o parto ou a amamentação); tratamento de infecções sexualmente transmissíveis e das hepatites virais; imunização para as hepatites A e B; programas de redução de danos para os usuários de álcool e outras substâncias; profilaxia pré-exposição (PrEP); profilaxia pós-exposição (PEP); e tratamento de pessoas que já vivem com o HIV, para que os níveis de contágio cheguem a quase zero.
Como tratar as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs)?
O tratamento para as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) é específico, de acordo com cada doença. A maior parte dos casos tem cura quando identificados precocemente. Com o uso de medicamentos ou vacina, algumas ISTs podem ser totalmente eliminadas, por isso a importância do acompanhamento médico preventivo anualmente. Outras doenças, no entanto, não têm cura, como a Aids, mas seu tratamento é importante para que o paciente tenha qualidade de vida e evite que a patologia se agrave. Além disso, com o tratamento sendo feito rigorosamente, as chances de infectar outras pessoas podem chegar a níveis nulos.
A Dra. Ana Helena reforça a importância de incluir as sorologias para ISTs nos exames anuais de rotina. “Qualquer médico pode solicitar os exames e, em caso de confirmação do diagnóstico, o tratamento deve ser conduzido por um infectologista”, conclui a médica.