Você sabia que o coração tem apenas o tamanho do punho de um homem adulto? Dá para acreditar que um órgão tão pequeno possa ser a força motriz de todo o complexo organismo humano? O músculo cardíaco funciona como uma bomba hidráulica que faz o sangue circular por todos os vasos do corpo, do couro cabeludo à ponta dos dedos dos pés. Ele é composto por átrios, ventrículos, válvulas, veias, artérias e possui uma parede com três camadas protetoras: pericárdio, miocárdio e endocárdio.
O endocárdio é um revestimento fino que protege o miocárdio e as válvulas do coração. Quando uma pessoa tem alguma doença cardiovascular, principalmente das válvulas cardíacas, e contrai alguma infecção, ela está mais propensa a desenvolver endocardite. No blog de hoje, o Dr. Sérgio Ramalho, cardiologista do Hospital Brasília, explica o que é essa alteração e como tratá-la.
O que é endocardite?
A endocardite é uma inflamação que atinge a camada de revestimento interna do coração – endocárdio – e pode ser classificada como infecciosa ou não infecciosa. Trata-se de um quadro grave, mais comum entre pessoas cardiopatas, que surge da invasão de micro-organismos que acessam a corrente sanguínea e se alojam tanto no endocárdio, quanto nas válvulas cardíacas.
Quais são as causas da endocardite?
A principal causa da endocardite é a infecção por bactérias que o sistema imunológico não conseguiu combater e, devido à presença de doenças cardiovasculares anteriores, pode tornar o coração vulnerável quando o microrganismo se espalha pelo sangue e chega ao coração.
Essa invasão pode acontecer até mesmo durante a execução de hábitos comuns ao dia a dia, como escovar os dentes, por exemplo, ou um pequeno ferimento ao cortar alimentos.
Uma vez no organismo, estes germes avançam para o endocárdio, onde, caso consigam se fixar e multiplicar, formam vegetações que avançam o processo infeccioso.
Quais são os sintomas de endocardite?
Grande parte dos sintomas de endocardite se assemelham às manifestações de outras enfermidades e variam de uma pessoa para outra, assim como dependem da velocidade de evolução do quadro e da gravidade das lesões causadas. Os sintomas mais comuns são:
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febre alta;.
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calafrios;
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sudorese noturna;
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inchaço no abdômen e membros inferiores (pés e pernas);
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cansaço intenso;
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dores musculares, articulares e no peito;
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falta de apetite e consequente perda de peso;
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aumento do baço (esplenomegalia);
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manchas vermelhas ou roxas na pele e no branco dos olhos (petéquias);
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nódulos macios nas pontas dos dedos das mãos e dos pés (nódulos de Osler);
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sangramento nas palmas das mãos e nas plantas dos pés (lesões de Janeway);
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hemorragia na retina e nos olhos (manchas de Roth).
“Se você apresentar algum dos sinais acima, relate ao seu médico e procure o hospital, principalmente se você já souber que tem alguma cardiopatia", orienta o Dr. Sérgio Ramalho.
Qual exame detecta a endocardite?
O diagnóstico da endocardite é feito a partir da história clínica (anamnese), avaliação dos sintomas e:
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hemocultura (cultura do sangue): exame de sangue capaz de identificar o tipo da bactéria;
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ecocardiografia (ultrassom do coração): ondas sonoras que reproduzem imagens do coração, o que permite visualizar as válvulas cardíacas e talvez, as vegetações;
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tomografia e ressonância magnética: exames de imagem que apontam a possível fonte da infecção que levou à endocardite bacteriana.
“Pelo caráter pouco específico dos sintomas (febre, por exemplo), inicialmente pode ser difícil diagnosticar o quadro apenas pelo relato, daí vem a importância de detalhar a história e fazer os exames complementares. Depois de confirmada a endocardite, o tratamento deve ser iniciado o quanto antes a fim de impedir o avanço da infecção. Para isso, o paciente permanece internado para administração de antibióticos por via endovenosa (pela veia) e acompanhamento da evolução do quadro. Caso antibióticos não sejam suficientes para controlar o problema, pode ser necessário recorrer a uma cirurgia para substituir a válvula danificada por uma artificial", explica.
Como prevenir a endocardite?
O especialista afirma que, de maneira geral, o risco de endocardite é baixo. Mas garantir medidas adequadas de higiene, sobretudo de saúde dental, pode impedir o acesso pela principal porta de entrada de bactérias, a boca.
Algumas pessoas precisam de maior atenção, especialmente aquelas que já têm algum problema nas válvulas do coração, cardiopatias congênitas ou genéticas. “Além de uma higiene bucal adequada, usar antibiótico antes de algumas cirurgias é uma importante medida preventiva", conclui.